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Mais de R$1 bilhão desviados da Saúde. Fantástico mostra como operava quadrilha que atuava nos hospitais do Pará na pandemia. Governo do Pará continua em silêncio

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Em matéria completa na noite deste domingo, 22, o Fantástico, programa da Rede Globo, mostrou em detalhes como operava a quadrilha que desviou mais de R$1,2 bilhão da saúde durante a pandemia. Vários hospitais regionais do Pará fizeram parte do desvio.

O operador era Nicolas Andre Tsontakis Morais, que também usava identidade falsa de Nicolas André Silva Freire, no esquema que desviou R$ 455 milhões dos cofres públicos – de um total de R$ 1,2 bilhão envolvendo outras falcatruas na área de saúde -, enquanto milhares de paraenses, entre 2019 e 2020, morriam atacados pela pandemia da Covid-19, sem respiradores, bombas de infusão, UTIs, leitos hospitalares e medicamentos para combater a doença. Ele foi preso pela Polícia Federal pela segunda vez.

Os ladrões festejavam o desvio de até 80% do dinheiro que deveria ter sido destinado para os hospitais de Belém, Santarém, Itaituba, Capanema, Castanhal, Breves e outros.

Os recursos que serviriam para salvar as vidas dos paraenses foram desviados para compra de apartamentos de luxo, fazendas de gado, terras, helicóptero, aviões, postos de combustíveis e carros com valores elevados, superiores a R$ 500 mil.

Todo o esquema acontecia no mesmo momento em que pessoas desesperadas morriam nas filas e antessalas de hospitais públicos em busca de socorro médico.

“Da análise dos celulares apreendidos, com as conversas contidas em aplicativo WhatsApp há a presença de elementos mais que indiciários dos crimes investigados, além de robustez nos indicativos de lavagem de dinheiro”, afirma o relatório da PF.

A Polícia Federal liberou trechos das conversas obtidas dos aparelhos celulares apreendidos na operação.


Veja as conversas obtidas pela PF:

 

Em um dos diálogos, é possível depreender, com clareza, segundo a investigação, que o dinheiro público destinado à saúde “era desviado e, parte significativa, passava pela conta da Minotauro, empresa de Nicolas.”

No dia 01 de agosto de 2020, o IPG recebeu do Governo do Estado do Pará a quantia R$ 2.100.001,00 referente ao Hospital Regional de Breves no Marajó e R$ 4.200.001,00 referente ao contrato do Hospital de Santarém.

Dois dias depois, em 03 de agosto de 2020, Manoel, um dos detidos na operação, manda mensagem para Nicolas informando do recebimento dos valores pelo IPG. Nessa ocasião, Nicolas pede para Manoel dizer a Gilberto que dos seis milhões repassados pelo Governo do Estado ao IPG, cinco milhões já estavam “comprometidos” e, por isso, o hospital deveria ser gerido apenas com um milhão de reais. Dessa forma, observa-se que mais de 80% do valor repassado à Organização Social seria desviado para a conta da Minotauro.

“A gente vai usar no mínimo R$ 5 milhões desse dinheiro”

Nicolas – (transcrição de áudio): “chega com ele amanhã cedo, dizendo ‘chefe só para começar a semana ele tem 3 milhões a 4 milhões para cobrir, essa semana já tem transferência feita com o agendamento para quarta-feira de 1 milhão e 200, e tem mais 800 mil cheque e tem outro agendamento para quinta-feira de dois milhões’. Dessa vez a gente vai usar no mínimo uns 5 milhões desse dinheiro, entendeu Manoel, não gasta nada. Vai ficar em um milhão para pagar as besteirinhas enquanto sai o resto do dinheiro, mas 5 milhões tá comprometido desde já. Tá aqui os cheques, está aqui os agendamentos que ele fez. Ele foi para Brasília diga assim pro Gil (Gilberto, do IPG), bora fazer tudo pela Minotauro mesmo né, não tem outra”.

Sobre essas mensagens, Manoel esclareceu à Policia Federal: “o interrogado foi solicitado a esclarecer conversas existentes no aparelho telefônico apreendido de Nicolas durante a operação S.O.S; que perguntado sobre uma conversa de 4/08/2020, entre o interrogado e Nicolas, o mesmo informou que a conversa dizia respeito a um pedido de Nicolas ao interrogado, solicitando que o interrogado entrasse em contato com Gilberto Torres Alves Júnior para que Gilberto repassasse a Nicolas certos valores; que mostrada a foto de Gilberto Torres Alves Júnior, procurador do Instituto Panamericano de Gestão – IPG, o interrogado o reconheceu como sendo o mesmo citado na conversa com Nicolas”.

Manoel prossegue o depoimento, informando que Nicolas e Gilberto “se encontraram por diversas vezes pessoalmente, inclusive no apartamento de Nicolas; que o interrogado acredita que Nicolas solicitou a sua intermediação com Gilberto pois apesar dos encontros, tentava evitar um contato direito com o mesmo; que o valor solicitado foi referente ao contrato do Hospital de Campanha de Santarém; que, segundo se recorda, o valor repassado ao IPG pelo Governo do Estado, foi de aproximadamente R$ 4.200.000,00 milhões e Nicolas estava exigindo o retorno de R$ 3.000.000,00 milhões; que Gilberto teria esclarecido ao interrogado que não havia como fazer o pagamento a Nicolas pois estava com os repasses da Sespa suspensos, mas que quando entrasse o recursos do Hospital de Itaituba, até o dia 12/08/2020, ele repassaria a Nicolas”.

Mais uma vez, em 12 de agosto de 2020, Manoel solicita a Nicolas dados de conta bancária para que Gilberto transferisse os valores do IPG para Nicolas, ocasião em que este diz ser melhor usar “a conta da Minotauro”.

Nicolas: “pode ser física ou jurídica tanto faz. É melhor na PJ, na Minotauro. Eu vou passar…se for na física eu vou ter que botar para Minotauro para cobrir um cheque”.

No dia 14 de agosto de 2020, outro diálogo mostra não somente a utilização da Minotauro para, como afirma a PF na investigação, “mais uma vez, propiciar a dissimulação nos valores ilicitamente desviados do IPG como, também, comprovam que os recursos desviados da saúde eram, infelizmente, superiores àqueles efetivamente utilizados. Na ocasião, Manoel repassa para Nicolas o que havia conversado anteriormente com Gilberto”.


A sangria dos hospitais: veja as entidades de onde os recursos foram desviados


No relatório, a PF aponta que os recursos desviados, totalizariam R$ 455.625.150,55 (quatrocentos e cinquenta e cinco milhões, seiscentos e vinte e cinco mil, cento e cinquenta reais e cinquenta e cinco centavos), “que seriam oriundos de repasses efetivados pelo Governo do Estado do Pará, por meio da celebração de contratos de gestão, nos anos de 2019/2020, às Organizações Sociais (Instituto Panamericano de Gestão (IPG), Associação da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Pacaembu, Instituto Nacional de Assistência Integral (INAI) e Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Birigui)”.

A finalidade desses recursos seria promover a administração de 9 hospitais, a seguir:

Hospital Público Geral de Castelo dos Sonhos (Itaituba), Hospital de Campanha de Santarém, Hospital de Campanha de Breves, Hospital Regional Abelardo Santos (HRAS), Hospital de Campanha de Belém, Hospital de Campanha de Marabá, Hospital Público Regional de Castanhal, Hospital Público Geral de Castelo dos Sonhos, e Hospital Regional dos Caetes.

Informações: Ver-O-Fato