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Produtos de limpeza em excesso oferecem risco de intoxicação para as crianças e animais domésticos

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As mudanças e o rigor com os hábitos de higiene tem se mostrado fundamentais no enfrentamento à pandemia do novo coronavírus. Lavar as mãos, tomar banho com frequência, usar álcool em gel e passar o álcool e detergentes sobre as superfícies mais utilizadas no dia a dia tem sido o conselho propagado pelos órgãos de saúde para evitar a transmissão da covid-19. Mas o acesso, e sobretudo os excessos, no uso de produtos de limpeza sem os cuidados necessários podem causar outro problema grave: a intoxicação, tanto de humanos, quanto de animais.

O quadro é tão grave que os casos de intoxicação de animais domésticos por produtos de limpeza estão em segundo lugar entre as causas de acidentes, perdendo apenas para a intoxicação por medicamentos. Os dados são do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox), e foram apresentados pela médica veterinária Deborah Oliveira, da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), e da médica pediatra Mariane Franco, da Universidade do Estado do Pará (Uepa). Elas trataram do assunto em live transmitida ontem, sexta-feira, pela Farmácia Veterinária Comunitária (Farmavetcom) da Ufra.

Segundo as médicas, durante a pandemia, o uso e armazenamento dos produtos precisa ser observado nas residências onde existem animais de estimação. “Embora não tenham estatísticas oficiais sobre o assunto, neste período de pandemia relatos de profissionais veterinários, que atuam na área de clínica médica de animais de cães e gatos, já observam crescimento do número de atendimentos a casos de pets com problemas de saúde relacionados a estes produtos, assim como a medicação feita por contra própria pelos tutores de animais”, diz Deborah Oliveira, coordenadora do curso de Medicina Veterinária da Ufra e membro da Sociedade Brasileira de Farmacologia e Terapêutica.

As médicas citam também que em 2018 uma pesquisa realizada pelo Laboratório de Farmacologia Veterinária da Ufra, com 300 tutores de animais, mostrou que aproximadamente 28% dos casos de intoxicação citados foram por acidentes com produtos de limpeza, sendo a água sanitária a substância mais envolvida.

Segundo a médica veterinária, entre os principais fatores que influenciam nesses acidentes está o fácil acesso dos animais aos locais onde estão os produtos. “Em nossas pesquisas percebemos que 78% da população entrevistada permite o livre acesso e circulação dos animais nos locais onde armazenam os produtos de limpeza, como lavanderia, cozinha e banheiros. E esses produtos também tem armazenamento inadequado, ou seja, ao alcance de animais, por muitas vezes utilizados não respeitando as recomendações do fabricante e não isolando os animais durante o uso”, diz.

A médica veterinária dá algumas dicas sobre como armazenar esses produtos de forma segura: “Sempre guarde os produtos em local seco; deixe fora do alcance dos animais, protegidos da luz, calor ou de aparelhos elétricos; Ao utilizar produtos de limpeza em pisos, não deixe o animal ter contato imediato com a superfície. Evite a compra de produtos sem identificação e origem desconhecida; pois em caso de intoxicação dificulta o diagnóstico e o tratamento, uma vez que nós veterinários, não sabemos que tipo de substância tem na formulação deste produto clandestino. Mantenha os animais afastados do local durante a limpeza do ambiente; Ao finalizar, retire o excesso do produto do local com água corrente antes de recolocar o animal no espaço”, diz.

Sinais e sintomas – Dependendo da substância e da via de contaminação os sinais da intoxicação podem variar ou confundir com outras doenças. “Em geral os sinais são de instalação aguda, isto é, logo após o contato com o produto. E podem variar de acordo com a via de contaminação, produto e quantidade a qual o animal foi exposto. Os sintomas vão desde salivação excessiva; vômito; agitação; lacrimejamento; vermelhidão nos olhos, boca e pele; coceira; tosse; espirros; respiração anormal; tremores, inconsciência; convulsão e morte”, adverte.

Mas os efeitos da intoxicação também podem ser também mais ou menos graves também de acordo com a idade, a espécie e a raça do animal. “Porque a sensibilidade é variável. Em caso de intoxicação do animal, a principal medida é procurar atendimento veterinário urgente. “Se o seu animal estiver apresentando qualquer alteração física ou comportamental, não tente induzir o vômito ou fazer com que ele beba leite ou clara de ovo; caso ele vomite naturalmente, colete com segurança com auxilio de luva uma amostra, pegue o rótulo do produto e leve com seu animal imediatamente a um médico veterinário”, aconselha.

Atraídas por cores das embalagens, crianças correm sérios riscos

O interesse, o cheiro dos produtos e as cores, fazem das crianças outro grupo de vítimas de intoxicação por produtos químicos. Com o isolamento social, o número de casos aumentou, e fez com que em maio, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgasse uma nota técnica, comunicando sobre o perigo da intoxicação por álcool em gel e alertando que as crianças são as vítimas mais comuns.

Segundo a Anvisa, só de janeiro a abril deste ano foram registrados 108 casos de intoxicação pelo produto, sendo 88 deles em crianças. O número é muito maior do que o total de casos registrados em 2018 (15 casos) e 2019 (17 casos). A nota foi feita de acordo com dados dos Centros de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox).

A médica Mariane Franco, professora do curso de Medicina da Universidade do Estado do Pará (Uepa) e membro do comitê de pediatria do Conselho Federal de Medicina, explica que a intoxicação por produtos de limpeza ocupa o terceiro lugar no ranking de acidentes domésticos com crianças de até quatro anos, ficando atrás somente de acidentes por queda ou afogamento.

Com a pandemia e a permanência das crianças em casa, esses acidentes se intensificaram. “Observamos muitos acidentes com água sanitária, utilizada para limpeza do chão e para evitar a propagação do vírus, e também de ingestão de álcool em gel, um produto que as pessoas tem deixado pela casa, em qualquer lugar, e com fácil alcance das crianças”, adverte.

Outro produto que chama a atenção das crianças é o detergente, principalmente os com cheiros de frutas. Segundo a médica, o aroma é atrativo para as crianças, o que propicia a ingestão. Amaciantes líquidos, shampoos, e demais produtos muito perfumados também estão na lista dos que mais causam intoxicação. “O principal sintoma após o contato com algum desses produtos é a tosse e a dificuldade de respirar, e dependendo do produto, o vômito também é frequente. Mas é importante que os pais não tentem induzir ao vômito, pois podem provocar uma aspiração do produto, e nem tentem fazer a criança ingerir alimentos, como leite, e procurem a emergência e um posto de saúde o mais rápido possível”.

A intoxicação por produtos químicos pode provocar sequelas graves, além do óbito. “Por isso é importante pensarmos na prevenção. Todo material deve ser guardado em armários. Medicamentos, principalmente os que tem sabores atrativos, também precisam ser armazenados fora do alcance da criança. Caso não venha a óbito, as sequelas de intoxicação podem ser para a vida toda, com a criança não conseguindo mais engolir e nem se alimentar, necessitando de sonda no estômago, ou desenvolvendo problemas respiratórios e pulmonares graves, além de intolerâncias”, diz.

A live com as orientações das duas médicas, organizada pela Farmácia Veterinária Comunitária (Farmavetcom), da UFRA, teve apoio dos ligas acadêmicas de Farmacologia Veterinária (Lafav) e Paraense de Pediatria Clínica e Cirúrgica (LAPPECC).

Fonte: Romanews