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Médicos do Pará citam desespero por falta de leitos

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Pessoas com covid-19 morrendo na fila à espera por um leito de UTI, falta de remédios e uma explosão de novos casos sem ter onde tratá-los. É assim que médicos descreveram o cenário de “colapso” no Hospital Regional Público da Transamazônica (HRPT), em Altamira, no interior do Pará.

O hospital é referência na região e atende mais de 500 mil pessoas que vivem em nove cidades. Hoje, porém, a unidade está saturada, não tem condições de atender mais ninguém e já transfere pacientes para outros Estados em viagens que duram horas.

Um relatório divulgado com base nas informações divulgadas pelas prefeituras e secretarias de Saúde da região do Xingu apontava que 14 pessoas estavam na fila por uma vaga na UTI às 22h de quarta-feira, 24. Cinco pessoas morreram e outras 200 foram contaminadas com covid-19 nas últimas 24 horas.

Na terça-feira, 23, a Prefeitura de Altamira decretou calamidade pública pelos próximos três meses. A intenção da prefeitura é agilizar a compra de insumos e equipamentos para os hospitais da região, sem a necessidade de uma licitação. Mas para que ele seja legalmente válido ainda precisa ser aprovado pela Assembleia Legislativa do Pará (Alepa).

Apesar do relato dos médicos e do desespero da prefeitura, a Secretaria Estadual de Saúde do Pará diz que está tudo sob controle.

Um médico que trabalha no hospital disse à BBC News Brasil, sob a condição de anonimato, que, além da falta de vagas, os doentes apresentam quadros cada vez mais graves.

“Os casos aumentaram muito desde o início do ano. A doença está mais grave também. Antes, demorava uma semana para surgir um quadro de pneumonia. Agora, o paciente dá entrada e isso acontece depois de quatro dias. Uma evolução rápida e mais grave, com maior tempo de internação”, explicou ele.

O hospital, por meio de sua assessoria de imprensa, disse ainda que não considera a atual situação como um colapso, relatando ter atendido 643 pessoas com suspeita ou casos confirmados de covid desde o início da pandemia.

 

VISITA DO GOVERNADOR


No dia 11 deste mês, o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), visitou o Hospital da Transamazônica. Na ocasião, lembram os médicos, ele inaugurou leitos para pacientes leves e moderados de covid. Além disso, prometeu a abertura de mais dez leitos de UTI. A Secretaria da Saúde disse que essas unidades serão entregues até o fim desta semana.

Mas os médicos dizem que esses leitos nem sequer atenderão a demanda atual de pessoas que estão na fila por uma unidade de terapia intensiva.


FALTA DE REMÉDIOS

 

Profissionais que trabalham no hospital da Transamazônica também relataram ter esgotado os estoques nas últimas semanas de ao menos dois medicamentos usados no tratamento de pacientes com covid: a enoxaparina (anticoagulante) e a dexametasona (corticoide). Isso, segundo eles, prejudica o tratamento porque mudar os corticoides diminui o efeito da medicação.

“Quando ocorre essa falta de medicamentos, a gente acaba mudando o tratamento e isso leva a um desfecho ruim para o paciente. É muito comum surgir uma pneumonia secundária em casos de covid e são necessários antibióticos para tratá-la. Quando você precisa mudá-lo, ele não faz o mesmo efeito”, disse um dos médicos.

Questionado, o hospital disse que não há falta desses medicamentos, mas não respondeu se eles acabaram recentemente, como afirmam os médicos. A administração estadual disse que desde o início da pandemia, um “trabalho de logística envolve a aquisição antecipada em quase dois meses para evitar o desabastecimento da unidade”

Fonte: BBC Brasil/Época