“Um pesadelo dentro da pandemia”. Essa foi a frase usada por alguns médicos para descrever o crescimento vertiginoso de casos de mucormicose na Índia, uma infecção provocada por fungos que já acometeu quase 9 mil pacientes com Covid-19 nesse país do Sudeste Asiático.
Conhecido popularmente como “fungo negro”, o quadro mata mais de 50% dos acometidos. Muitos precisam passar por cirurgias mutilantes, que retiram partes do corpo afetadas pelo micro-organismo, como os olhos.
Embora os relatos vindos da Índia sejam preocupantes e precisem ser acompanhados de perto, especialistas ouvidos pela BBC News Brasil entendem que eles não são motivo de grande alarme e é improvável que um cenário parecido se repita no Brasil ou em outros lugares do mundo.
Para especialistas a mucormicose não é algo que vai se espalhar pelo mundo e isso pode ser explicado por dois motivos.
- Em primeiro lugar, esses fungos são conhecidos e estudados desde o final do século 19.
- Segundo, eles já circulam livremente por boa parte do mundo, inclusive no Brasil.
Por que o ‘fungo negro’ ganhou terreno?
No atual momento, a Índia reúne uma série de condições que ajudam a explicar o aumento dos casos de mucormicose.
“Os agentes causadores da doença estão no ar e tiram vantagem da umidade alta e da temperatura quente daquele país”, contextualiza o especialista Pasqualotto.
Vale reforçar que os fungos que provocam essa condição, conhecidos como Rhizopus, Rhizomucor e Mucor, estão presentes em muitos países (incluindo o Brasil) e podem ser observados no bolor do pão e das frutas, por exemplo.
Mas se eles são tão comuns assim, por que só causam estragos em algumas poucas pessoas, enquanto outras sequer são afetadas?
A explicação está na condição de saúde de cada um, existem três situações que facilitam o desenvolvimento da mucormicose: ter diabetes descontrolado, ser portador de doenças oncohematológicas (como a leucemia), que requerem transplante de medula óssea, ou fazer uso de altas doses de remédios da classe dos corticóides, que possuem ação anti-inflamatória.
Portas de entrada
Mas como esses seres microscópicos invadem o corpo humano?
No geral, eles podem ser aspirados pelo próprio paciente ou entrar através dos tubos e cateteres que ficam ligados nas veias.
Outra origem é o intestino: como os fungos colonizam boa parte do sistema digestivo junto com as bactérias, eles podem aproveitar um desequilíbrio na microbiota (causada pelo uso de antibióticos, por exemplo) para ganhar terreno ali mesmo ou até invadir a circulação sanguínea.
Cada um desses fungos pode afetar uma parte específica do organismo: a mucormicose, que ganhou destaque nos últimos tempos, costuma entrar pelo nariz e logo invade os vasos sanguíneos do rosto, criando manchas escuras por onde passa (daí a alcunha “fungo negro”).
como evitar isso?
Tudo começa com a prevenção. As equipes de saúde precisam ter muito cuidado com a higiene e a lavagem das mãos, principalmente quando vão mexer nos cateteres e demais dispositivos que estão próximos do paciente.
Desse modo, já é possível evitar a contaminação desses materiais e a entrada de fungos pela respiração ou pelos vasos sanguíneos.
Outra tática usada em hospitais, especialmente nas alas que recebem os pacientes com sistema imune muito comprometido (como aqueles que passaram por um transplante de medula óssea, por exemplo) é a instalação de filtros Hepa nos sistemas de ventilação.
Esse material tem fibras capazes de reter partículas muito pequenas — entre elas, esporos de Aspergillus que poderiam invadir o organismo das pessoas mais debilitadas.
Uma terceira estratégia é lançar mão de remédios antifúngicos de forma profilática, para evitar que uma infecção oportunista apareça.
Fonte: BBC