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Caos na saúde pública de Belém; médicos pedem demissão e denunciam falta de estrutura

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Belém passa por problemas na saúde pública. O caos tem acontecido devido aos cortes nos plantões, anunciados pela Secretaria Municipal de Saúde (Sesma), o que teria provocado o pedido de saída de diretores do Hospital do PSM Mário Pinotti e de Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs), motivando, por sua vez, a suposta precariedade gerada com a falta de recursos humanos e materiais.

O resultado do cenário, segundo denúncias recebidas, é o precário serviço oferecido à população em UPAs como de Icoaraci, onde os usuários estariam esperando em torno de 4 horas para atendimentos com iminência de morte. A UPA da Sacramenta e a unidade de saúde do Curió estariam também registrando longo tempo de espera por atendimento.

Nesse emaranhado de instabilidade na saúde pública da capital paraense, o “estopim” veio com expedição do memorando (nº023/2022), datado de 29 de março deste ano, e assinado respectivamente pelas diretoras Geral e do Departamento de Gestão e da Regulação do Trabalho em Saúde (DGRTS), Gloria Pinto e Maria Liduína Soares. O expediente oficializou as orientações quanto à execução de plantões médicos, o que na prática teria reduzido o complemento salarial dos profissionais, suficiente para provocar a debandada de diretores, a exemplo dos alocados no Departamento de Urgência e Emergência (DEUE) da capital e nas UPAS da Sacramenta e de Icoaraci.

No memorando, ao todo, a Sesma listou 12 regras relacionadas à regulametação dos plantões, o que segundo as denúncias, tem inviabilizado o atendimento nas unidades de saúde. Ao final, o documento ressalta que o padrão dos quantitativos dos plantões médicos serão parametrizados e “que os excedentes no quantitativo não serão aceitos, mesmo que executados pelos profissionais”.


DEBANDADA

 

Em comunicado postado por um aplicativo de mensagem e direcionado aos servidores e servidoras do HPSM Mário Pinotti, o ex-diretor clínico, o médico Renato Mauro Vieira Souza, despede-se das atividades daquela unidade de saúde e fala do trabalho feito, mas aponta ao que chama “a mais grave crise de desabastecimento do hospital”. “Saímos com a satisfação por termos feito o possível para melhorar em diversos aspectos o hospital que em boa parte dependiam muito mais da vontade humana que de recursos, dos quais não dispunhamos”, diz um trecho do comunicado. Renato assegurou que “estava insustentável, faltando de dipirona a sedativo. Por último, decidiram cortar os salários dos servidores e diminuir os plantões dos médicos!”.

 

Auditoria no HPSM14

 

Renato Souza critica o corte e diz que se posicionou contra os cortes de remuneração, o que gerou, segundo ele, a precarização da assistência. Em outro trecho, diz “…oferecer aos mais necessitados a pior assistência e naturalizar o caos é uma atitude elitista da qual não comungamos”. O ex-diretor diz que o hospital enfrentou uma ‘auditoria’ por equipe da Sesma, que em diversos momentos agiu com insinuações desrespeitosas e hostis a servidores efetivos, reconhecidos por sua competência, mas que até o momento não teria apresentado o resultado das investigações.

 

Precarização

“Ninguém aguenta tanta falta de respeito com o povo. Sou médico, quero muito ajudar a população, pois eles não têm culpa de nada. Mas do jeito que está não tem como trabalhar”, revolta-se o profissional que pediu para ter o nome preservado. O atendimento chamado de porta aberta, estaria sendo realizado já de forma precária na UPA de Icoaraci, segundo ele, passou de cinco para quatro profissionais, após corte nos plantões.


Até 6 horas para atendimento


Uma das denúncias mais grave foi o tempo de espera nos atendimentos de emergências da UPAs. Na UPA de Icoaraci, por exemplo, pelo sistema de triagem, nesta segunda-feira 28, os atendimentos de emergência (iminente de morte), estavam sendo realizados com o tempo de quatro horas, e outros não graves, até 6 horas. Por volta das 18h, a reduzida equipe da Unidade mantinha atendimento de urgência de 29 pacientes, enquanto outras 36 pessoas aguardavam atendimento e 30 continuavam em observação. Já nesta terça-feira 29, por volta de 20 horas, 46 pessoas esperavam para ser atendidas e 20 continuavam em observação, mas o tempo de espera para os casos de gravidade moderada era de mais de 5 horas.

A prefeitura ainda não se pronunciou.

Fonte: Diógenes Brandão